Quarta-feira, 30 de Julho de 2008

Faça-se a tua vontade! - 3

Cá vai mais uma a que não pude resistir.

O que me lembra que, se eu começo a publicar as poesias de

Fernando Pessoa porque não posso resistir-lhes, mais vale assumir já que vem aí o livro todo! 


Este é de Alberto Caeiro



O Amor é uma Companhia


O amor é uma compania.

Já não sei andar só pelos camminhos,

Porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa

E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.


Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.

Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.


Todo eu sou qualquer força que me abandona.

Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

 

 

Foto: Fernando Pessoa em 1914, autoria indeterminada

publicado por Cristina Mouta às 18:53
link | comentar | favorito
Sábado, 26 de Julho de 2008

Faça-se a tua vontade! - 2

 

 

A falência do prazer e do amor XXI

(exc.)

 

Amo como o amor ama. 
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te. 
Que queres que te diga mais que te amo, 
Se o que quero dizer-te é que te amo? 
..................................................................... 
Quando te falo, dói-me que respondas 
Ao que te digo e não ao meu amor. 
..................................................................... 
Ah! não perguntes nada; antes me fala 
De tal maneira, que, se eu fora surda, 
Te ouvisse todo com o coração. 

Se te vejo não sei quem sou: eu amo. 
Se me faltas [...] 
... Mas tu fazes, amor, por me faltares 
…………………………………………………. 
E, se me buscas, é como se eu só fosse 
Alguém pra te falar de quem tu amas.  
..................................................................... 
Quando te vi amei-te já muito antes: 
Tornei a achar-te quando te encontrei. 
Nasci pra ti antes de haver o mundo. 
Não há cousa feliz ou hora alegre 
Que eu tenha tido pela vida fora, 
Que o não fosse porque te previa, 
Porque dormias nela tu futuro. 
..................................................................... 
E eu soube-o só depois, quando te vi, 
E tive para mim melhor sentido, 
E o meu passado foi como uma 'strada 
Iluminada pela frente, quando 
O carro com lanternas vira a curva 
Do caminho e já a noite é toda humana. 
..................................................................... 
Quando eu era pequena, sinto que eu 
Amava-te já longe, mas de longe... 
..................................................................... 
Fernando Pessoa

 

Pintura de Fernando Pessoa por

Almada Negreiros

publicado por Cristina Mouta às 09:15
link | comentar | favorito
Terça-feira, 22 de Julho de 2008

Faça-se a tua vontade!

Cara Alexandra, obrigada pela tua coragem. Enquanto não aparece mais nenhum comentário que faça companhia ao teu, faço-te a vontade.

Vou publicar umas poesias, em posts diferentes, que, não sendo minhas, sinto profundamente...

Decididamente, um dia deixo-me de coisas e tento eu umas letras...

 

Ausência


Num deserto sem água

Numa noite sem Lua

Num país sem nome

Ou numa terra nua


Por maior que seja o desespero

Nenhuma ausência é mais funda do que a tua


Sophia de Mello Breyner Andresen


tags:
publicado por Cristina Mouta às 09:01
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 16 de Julho de 2008

Poesia: acima de tudo SINTA-SE


Por falar na nossa capacidade de expressar o que nos vai na alma, continuo a concordar que nada melhor para isso do que os POETAS.

Assim, aqui vai um singelo contributo meu para que se leia/sinta poesia portuguesa...

Eu adoro esta, pelo que diz e pelo que não chega ao despudor de dizer!



 

Ternura

David Mourão Ferreira

 

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

 

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

 

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

 

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

 

 

 

desenho de Francisco Simões in Colóquio|Letras: http://www.coloquio.gulbenkian.pt/historia/david_mourao_ferreira.htm

 

--

publicado por Cristina Mouta às 09:00
link | comentar | ver comentários (1) | favorito

. ver perfil

. seguir perfil

. 1 seguidor

.Maio 2012

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.Arquivos

.Links

.tags

. ambiente(2)

. amizade(3)

. amor(2)

. aprendizagem(3)

. autor(2)

. banda desenhada(2)

. biblioteca pública(2)

. bibliotecas(3)

. carlos drummond de andrade(2)

. censura(2)

. cultura(6)

. direitos de autor(4)

. direitos humanos(4)

. fernando pessoa(3)

. incentivo à leitura(4)

. leitura(3)

. liberdade de expressão(3)

. natal(4)

. poesia(4)

. solidariedade(3)

. todas as tags

.subscrever feeds