Sexta-feira, 23 de Abril de 2010

Livro, leitura, leituras e a atmosfera da pureza

A Leitura é a Maior das Amizades A amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. E além disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestíbulo a que chamamos deferência, gratidão, dedicação e a que misturamos tantas mentiras, são estéreis e cansativas. Além disso, — desde as primeiras relações de simpatia, de admiração, de reconhecimento, as primeiras palavras que escrevemos, tecem à nossa volta os primeiros fios de uma teia de hábitos, de uma verdadeira maneira de ser, da qual já não conseguimos desembaraçar-nos nas amizades seguintes; sem contar que durante esse tempo as palavras excessivas que pronunciámos ficam como letras de câmbio que temos que pagar, ou que pagaremos mais caro ainda toda a nossa vida com os remorsos de as termos deixado protestar. Na leitura, a amizade é subitamente reduzida à sua primeira pureza. Com os livros, não há amabilidade. Estes amigos, se passarmos o serão com eles, é porque realmente temos vontade disso. A eles, pelo menos, muitas vezes só os deixamos a contragosto. E quando os deixamos, não temos nenhum desse pensamentos que estragam a amizade: — Que terão eles pensado de nós? — Não tivemos falta de tacto? — Teremos agradado? — nem o medo de sermos esquecidos por um deles. Todas estas agitações da amizade expiram no limiar dessa amizade pura e calma que é a leitura. Também não há deferência; só rimos com o que diz Molière na exacta medida em que lhe achamos graça; quando ele nos aborrece, não temos medo de mostrar um ar aborrecido, e quando estamos decididamente fartos de estar com ele, pômo-lo no seu lugar tão bruscamente como se ele não tivesse nem génio nem celebridade. A atmosfera desta pura amizade é o silêncio, mais do que a palavra. Porque nós falamos para os outros, mas calamo-nos para connosco mesmos. É por isso que o silêncio não traz consigo, como a palavra, a marca dos nossos defeitos, das nossas caretas. Ele é puro, é verdadeiramente uma atmosfera. Entre o pensamento do autor e o nosso não interpõe elementos irredutíveis refractários ao pensamento, os nossos egoísmos diferentes. A própria linguagem do livro é pura (se o livro for digno desta palavra), tornada transparente pelo pensamento do autor que dele retirou tudo quanto não fosse ele próprio até o transformar na sua imagem fiel; cada uma das frases, no fundo, semelhante às outras, dado que todas são ditas através da inflexão única de uma personalidade; daí uma espécie de continuidade, que as relações da vida e o que estas associam ao pensamento como elementos que lhe são estranhos excluem e que permite muito rapidamente seguir o próprio fio do pensamento do autor, os traços da sua fisionomia que se reflectem neste espelho tranquilo. Sabemos apreciar os traços de cada um deles sem termos necessidade de que sejam admiráveis, pois é um grande prazer para o espírito distinguir essas pinturas profundas e amar com uma amizade sem egoísmo, sem frases, como dentro de nós mesmos.

Marcel Proust, in 'O Prazer da Leitura', publicado n'"O Citador" URL:
http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200807191400&author=20

publicado por Cristina Mouta às 15:49
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Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008

Um dos maiores perigos do mundo

A nossa vida conhece algumas condições de tipo E.L.E. ( Extinction Level Event - traduzindo a esmo, acontecimento de tal magnitude que provoca extinção). Uma delas é a ignorância.

E se ela "junta os trapinhos" com o medo...

UAU! Aí temos MESMO formas de ultrapassar o trauma do imenso aborrecimento de lidar com uma vida digna e preenchida positivamente.

Mas eu prefiro uma vida cheia e digna. Uma vida dura de escolhas (sim, termos de fazer escolhas e responsabilizarmo-nos por elas é mesmo duro...).

Muitos dos que detêm nas mãos os destinos deste mundo preferem-nos na mesma condição que eles: com medo e na ignorância. Mas como são eles quem detem o poder coactivo nas mãos, a balança parece sempre dar-lhes mais capacidade de se aguentar. Será mesmo?

Eu não acho. Nós não somos robots. No nosso projecto esse nao foi um item do caderno de encargos. Pelo contrário...

Não repararam que há sempre uma luz ao fundo do túnel humano a espalhar-se?...

Não se espalha ela também pelas pareds, pelas páginas de um bloco de notas solto ao vento?...

 

Porque pensam que os "mandões" têm tanto medo?...

Vejam isto...

 

 

publicado por Cristina Mouta às 11:45
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Quarta-feira, 16 de Julho de 2008

Leitura... quanto te devemos

 

A nossa necessidade de expressar sentimentos, opiniões, tudo, enfim, tem como aliada eternamente fiel a leitura.

Ela não julga os motivos nem a propriedade social dos nossos sentimentos.

Simplesmente está ali, alicerçando a nossa capacidade de comunicação.

Este pequeno filme é uma boa publicidade à leitura. Pena que eu acho que, se calhar, só quem lê entende toda a mensagem.

Não me custa imaginar pessoas a comentar assim:"Olhó puto! Parece um mariquinhas! [vernáculo] Se ele me aparecesse a falar assim, levava logo um [vernáculo] dum bilhete no meio daquela testa, que até andava de lado!"

[Ok, se pensarmos em certos tipos de ambiente, talvez tenha sido mansa na quantidade de vernáculo! :-)  ]

 

Eu hei-de voltar à carga quanto à importância da leitura. Vejam e digam coisas!

 

 

publicado por Cristina Mouta às 03:39
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